Lanceiros negros, presentes! Suelen Aires Gonçalves
Socióloga e professora universitáriastyle="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Povo que não tem virtude, acaba por escravizar? eis a síntese da escrita na coluna Plural da semana! Para encerrar o mês de setembro, vamos recordar do massacre de Porongos e contar a história dos verdadeiros heróis farroupilhas: os lanceiros negros.
O dia 20 de setembro é uma data celebrada no Rio Grande do Sul como o dia da "Revolução Farroupilha", pois bem, vou contar uma história que em muitos espaços não é dita. Sinto-me no dever de contribuir em uma reparação histórica, apresentando quem são os verdadeiros heróis, os que não levam nomes de ruas nas cidades precisam ser lembrados.
Essa data é um dos marcos de uma guerra das mais sangrentas do período imperial que durou uma década e também tem a função de enaltecer a tradição. Mas trago a seguinte indagação: de que tradição estamos nos referindo?
Uma revolução, na perspetiva histórica, seria uma ruptura em algum modelo estabelecido seja ele econômico, político ou social. Porém, nas pseudos elites gaúchas não havia um desejo de mudanças na ordem social vigente, ou seja, o fenômeno está mais próximo de uma "revolta" do que de uma "revolução". Inúmeras pesquisas históricas apresentam que a ideia era de não rompimento com a ordem social. A estratégia estava centrada em assegurar os grandes latifúndios e o apoio ao trabalho escravo. Ou seja, a disputa era para assegurar seus benefícios e posições políticas junto ao poder central imperial. É neste momento que precisamos entender nossa história e trajetória.
Os negros que lutaram nesta guerra injusta foram embranquecidos ou simplesmente apagados. Contar a história dos Lanceiros Negros é um dever, pois foram exterminados pelo comando para que não houvesse uma tropa farroupilha, altamente experiente e composto por negros que lutam pela sua liberdade que foi prometida.
O corpo era composto por homens negros escravizados que buscavam liberdade. As elites Farroupilhas construíram um acordo, em um ataque combinado contra conhecido como o Massacre de Porongos, que resultou na morte de grande parte do contingente desses libertos e na prisão dos sobreviventes e seu envio ao Rio de Janeiro, antiga capital federal. O acordo feito e assinado pelos farroupilhas garantia a liberdade dos sobreviventes da guerra, mas na prática, tais homens negros ou foram executados ou mantiveram-se no exercito imperial até o fim de suas vidas.
REVOLTA
A história e trajetória da "Revolta" dos Farrapos deve ser vista e revista com a dimensão necessária na perspectiva racial. A construção do "gaúcho" no imaginário social dá-se na ideia de branqueamento e de não conflitos raciais. Sabemos que tal construção não tem materialidade na vida real. Pesquisas apontam desigualdades raciais presentes em nosso Estado, como por exemplo, desigualdades no acesso ao mercado de trabalho, do direito à cidadania pela condição racial. Outro fator importante para nossa reflexão é as desigualdades regionais que ficam nítidas no que tange o desenvolvimento econômico, social e político para com a população, mas sobretudo para a população negra. Precisamos compreender que tais desigualdades históricas impactam a vida do povo negro até os dias de hoje, e nós, herdeiros e herdeiras dos verdadeiros heróis vamos reivindicar sua honra. Os traidores que tem nomes de ruas terão suas verdadeiras façanhas demonstradas das mais diferentes formas de manifestação. Queremos reparação histórica e isso é apenas o começo!
É primavera
Silvana Maldaner
Editora de revistastyle="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">chegou a época mais fantástica do ano. A primavera. Tempo de renovação, das flores desabrocharem, das cores, dos aromas e do encantamento. É o período mais mágico, pois onde tudo que parecia sem vida, renasce. A Semente precisa de terreno fértil para germinar, condições climáticas, luz, calor, água. Tudo na medida certa. Sol e água demais podem matar. Mas se não tiver sol e água também não sobrevive.
Esta métrica fantástica e perfeita independe da vontade do ser humano. É só deixar a natureza agir, fluir e se desenvolver. Não podemos apressar o crescimento. Tampouco devemos duvidar do poder da germinação, abrindo a cova para conferir. O resultado seria traumático com risco de matar o broto.
A vida é assim. Tempo de plantar e tempo de colher. Precisamos da sabedoria para esperar o tempo certo. Se plantarmos cebola, não podemos esperar colher batatas. Também ninguém colhe o que não plantou. O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória.
Os relacionamentos seguem a mesma regra e os mesmos ciclos. Plantamos a semente do amor, da confiança, regamos com cuidado, zelo, afetos, tempo e dedicação. Quando deixamos de cumprir com alguns destes itens, a semente não floresce, não frutifica, não fixa as raízes, e com a primeira chuva ou seca, o relacionamento acaba. E a raiz morre.
JOIO E TRIGO
Há aqueles que plantam pepinos, rápidos e de fácil colheita. Há os que plantam araucárias. Arvores grandiosas, com crescimento lento. Uma araucária começa a produzir sementes a partir dos 15 anos e estima-se que pode durar de 400 a 700 anos. Você já pensou onde tem investido suas sementes? A sua colheita suporta chuvas e tempestades? Os seus relacionamentos te abandonam nas primeiras dificuldades? Ou te acusam que tinham muitas pedras e apontam as falhas dos ventos que eram muito fortes?
Este 2020 mostra para todo mundo que as raízes profundas dão o suporte para sobreviver, mas a flexibilidade dos galhos é que vão permitir que não se quebrem. O bambu é um ótimo exemplo, suporta ficar coberto com neve por 3 meses sem morrer. Ele vive agrupado em comunidades, são flexíveis, não competem. Não quebram com as curvaturas. Devemos aprender muito com a natureza. A flexibilidade, a curvatura, a humildade e o espirito de comunidade são as chaves para suportar os tufões que a vida nos traz.
Mas o mais importante, em época de plantio devemos separar o joio do trigo. Se não tirarmos as ervas daninhas, elas impedirão que o trigo cresça. Isto vale para pensamentos, palavras, atitudes, relacionamentos, empreendimentos e política. Não adianta enterrar o que é semente. Ela brota com mais força. Viva a primavera!